Tuesday, 21 January 2014

POR QUE FAZER EXERCÍCIO?

                Muito se fala em fazer exercício, caminhadas, sair com o cachorro, correr, entrar para uma academia, mover-se, sair do sofá, etc. (ufa, já cansamos né?)
                Pergunto a vocês: alguém sabe me dizer o POR QUÊ de tanto apelo ao movimento?
                Tudo começou milhões de anos atrás quando começamos a nos mover em dois pés.
O Primeiro Hominídeo foi desenhado para sobreviver num ambiente onde era obrigado a deslocar-se pé, caçava e carregava a presa por muitos quilômetros, defendia-se sozinho de animais que o atacassem, construía suas próprias armas, a diversão era pintar na parede da caverna as aventuras do dia e, muitas outras atividades que dependiam exclusivamente de sua força física.
Os corpos desses antecessores do homem moderno eram 100% adaptado àquela vida desgastante. Músculos, articulações, sistemas de sobrevivência (digestão, respiração, sentidos, etc) e aparência eram todos voltados a sobreviver custe o que custar.
A musculatura desenvolvia-se a partir da necessidade diária – quanto mais ele caminhava, mais forte e leve ele ficava. Se precisasse carregar muitos pesos, seu corpo se tornava mais robusto para suportar a labuta. Se ficasse cuidando dos rebentos pré-históricos, com certeza, motricidade fina era desenvolvida (coordenação motora de precisão). Assim, de acordo com a demanda de atividades, os corpos se modificavam para atender àquelas tarefas.
Sistemas de digestão e respiração eram também alterados para que houvesse absorção tanto de alimentos disponíveis como qualquer qualidade de ar (na época deveria ser escassa a comida e o ar não tão fácil de respirar!).
Cabelos e pelos, tipo de nariz e pele, dentes e tamanho de pés e mãos se adaptavam ao clima e geografia do local que gerações de famílias viviam. Mais calor, nariz achatado e grande; mais frio, nariz fino e alongado, proporcionando assim maior facilidade para respiração. O cabelo liso de nada ajuda em ambientes muito quentes, já que, pasmem, o cabelo foi criado para proteger a cabeça! Portanto cabelos mais crespos e grudados na cabeça são excelentes protetores do crânio contra o calor do Sol. O cabelo liso deveria ser longo para proteger o pescoço no frio. Pés grandes e ásperos para superfícies duras eram perfeitos. Acredito que manicures foram inventadas junto com sapatos...
Vamos comparar com o Homem do século XI: vai de carro na padaria que fica 3 quadras da sua casa; adquire alimentos no supermercado, sem precisar lutar ou matar ninguém; protege-se através de circuitos de tv, cercas elétricas, grades eletrônicas, porteiros eletrônicos; controle remoto para todos os aparelhos que tem em frente a um grande e espaçoso sofá, diverte-se geralmente na posição sentada, jogando games que imitam a vida sem que haja participação nela!
O corpo do homem moderno, entretanto, é o mesmo projeto básico do Homem de Nendertal! Nosso aparelho motor é o mesmo. Sistema digestivo, o mesmo; respiratório, idem. Cabelos e pelos, tudo igual, nascem adaptados ao local que seus ancestrais nasceram.
O cérebro ainda guarda programas de sobrevivência para impedir que morramos em caso de desnutrição, tais como, diminuir batimento cardíaco e causar sonolência. Fique sem comer muitas horas e observe que começará a bocejar! É o cérebro te desligando para preservar energia.
Somos o mesmo projeto, todavia, não usamos mais o corpo para as mesmas atividades! Há muito tempo que não caçamos para comer, com exceção da família Real Britânica que insiste na prática! Nossa atividade mais cansativa para alimentar-se é ir ao restaurante! E depois de comer muito, voltar para casa com sono.
Vivemos um período de fartura onde reclamamos no supermercado quando falta iogurte desnatado! Banana machucada? Irc! Comida de ontem? Jamais! Hoje nos damos ao luxo de viver a superprodução de alimentos e desperdiçamos muita comida. Nos primórdios era assim: acabou a comida? Só quando o papai for caçar de novo e voltar com a carne. Não gostou? Passa fome!
Os corpos de hoje poderiam muito bem ser assim:



                                                                                                                                              
Apresento a vocês o Captain MacCread do desenho Wall-E. Esse personagem é a imagem de um homem em 100 anos. Já não se caminha mais, há carrinhos que flutuam e te levam onde quiser. A comida é servida no próprio carrinho, e ele cuida de te colocar na cama. Para os preguiçosos de plantão, um sonho! Como as pernas não são mais utilizadas diminuíram de tamanho; o pescoço, que já não gira mais (o carrinho vira para você!) desapareceu; braços encurtados, já que todos os comandos são feitos por voz. Ora, mas esse corpo é perfeito para os dias de hoje!
Toda nossa força e flexibilidade são inúteis diante das modernidades que surgem sem parar para “facilitar” nossas vidas.
O corpo grita pedindo por movimento, e nós, em vez de levantarmos da cadeira, apertamos botões...
Esticamos os cabelos já que no Sol, usamos chapéus.
Afinamos os narizes sem entender que há um motivo por todo formato de corpo. Lembro-me que um aluno perguntou-me como engrossar as suas panturrilhas finas. “Você nasceu velocista!”-respondi. “Corre mais rápido que qualquer um nessa sala, apenas desconhece o propósito do seu corpo! E mais, é impossível engrossar panturrilha. Coloque silicone!”
Negamos nossa existência a todo o momento. E, em nome da modernidade, ficamos doentes! AH, esqueci-me de escrever – não utilizar o corpo da maneira projetada causa muitas doenças  e deficiências. Uma maneira de protesto corpóreo, acredito eu.
O excesso de gordura entope as veias e o excesso de peso machuca as articulações. A falta de movimento causa dor e infecção das articulações. Excessos alimentares destruíram os programas cerebrais, bagunçaram com o software neural de tal maneira que a propaganda na TV tem mais força que seu estômago cheio mandando aviso – CHEGA!
Por desconhecermos nosso propósito, desejamos ser como os outros, ter os corpos dos outros e mudamos através de cirurgia o projeto original, arriscando causar uma pane geral no sistema por vaidade.
Sem saber quem somos na verdade, deixamos os outros comandarem nossa vontade, permitimos que escolham por nós. Imaginem, se nem nós sabemos o que queremos, quem pode saber por nós?
Ficou triste? Eu também fico às vezes. Sabe o que me alegra? Cada vez mais pessoas ouvem o próprio corpo! Veja os parques, ruas e ciclovias cheias de cidadãos se movimentando. Não há mais o objetivo de matar aquele dinossauro chato que fica na porta da caverna esperando alguém sair para ele comer. Hoje fazemos movimentos apenas para manter o “aparato corporal” funcionando bem. Patinamos, escalamos montanhas, atravessamos rios e mares sem nenhum objetivo crucial, fazemos por desafio pessoal, por prazer, porque depois nos sentimos muito bem!

Nossa espécie não é das melhores. Ainda fazemos muitas besteiras. Comemos errado, em excesso, somos preguiçosos e nem sempre queremos saber o por que de estarmos nesse Planeta. Entretanto, quando vejo uma família num parque, jogando bola com as crianças, acende dentro de mim uma luzinha de esperança de que continuaremos a ser “seres que se movem” e utilizam o corpo como no projeto original. 

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